Meu batizado de capoeira
Eu sou apaixonado por capoeira, sem nenhuma cerimônia, é o esporte que eu sou apaixonado desde novo. Treinei durante vários anos e em algumas escolas diferentes, mas nunca tinha dado o primeiro passo, mas este ano de 2024, eu, enfim fiz meu batizado.
Primeiro deixa discutir um ponto, o batizado na capoeira podem ser dois momentos distintos, o momento onde você ganha seu nome de capoeira e o momento onde você ganha sua primeira corda. No meu caso, eu já tinha passado pelo ritual do batizado de nome, foi com meu professor Robocop lá na adolescência no Nordeste de Amaralina, em um determinado dia de treino, ele fez uma roda, botou para os alunos jogarem, e foi dando os nomes a cada um, foi interessante por que a gente ficava ansioso pra dar nome aos colegas e gritava os apelidos que a gente queria, alguns fazendo sentido, outros não, mas o professor sempre escolhia o que ele achava mais adequado pra a pessoa, talvez uma situação(como bumerangue que caiu com as pernas abertas parecendo um bumerangue), talvez uma característica da pessoa(como empenado por ter uma coluna tortinha) ou algo que a pessoa gostava(como hambúrguer, que todo dia comia hambúrguer antes do treino) enfim, nesse dia me tornei o Vai e Vem, justamente porque eu faltava muitos treinos.
Sobre a minha primeira corda, essa eu nunca tive, quando mais novo e dependente financeiramente dos meus pais, eu não arcava com os custos dos meus treinos, exames nem nada, e meu pai, que era o responsável financeiro, tinha uma visão de que a graduação não importava, foi assim inicialmente na capoeira, foi assim no karatê também. Então eu nunca peguei nenhuma graduação enquanto eu treinava, meu pai falava que corda servia apenas para segurar as calças. Na capoeira eu estive por participar deste momento por 4 vezes antes de pegar a minha graduação de fato, numa delas eu morava no Cosme de Farias, era aluno do então aluno formado Xaréu no grupo Arte e Mandinga, meu primeiro professor, o primeiro batizado foi na escola que eu estudava, e foi lindo, fui assistir e prestigiar, todo o pessoal que treinava comigo, dos melhores aos piores foram batizados e eu na arquibancada só assistindo, isso me desmotivou bastante e acabei saindo da capoeira pouco depois.
Lembro que no dia eu vi a formatura de capoeira mais linda que presenciei, todos os alunos formados do grupo entrando de paletó branco, tocando berimbau e com uma companheira ao lado para jogar Iúna, a pessoa tinha que fazer a cintura desprezada jogar e não deixar sua roupa branca ser sujada por outro jogador, foi tudo muito lindo, e foi assim que o formado Xaréu virou professor Xaréu, e hoje é um mestre.
Alguns anos depois aconteceu algo semelhante no Kilombolas com Professor Robocop, mesma oportunidade, mesma conversa do meu pai, mesmo resultado, todo mundo graduado e eu não. Ainda continuei treinando para ver se algo mudava, veio um segundo batizado e novamente nada, resolvi então sair de vez.
Depois de adulto resolvi voltar a treinar capoeira, procurei meu antigo professor Robocop, mas ele não estava mais em Salvador, comecei a fazer treino em alguns lugares, na academia de musculação, na academia de alguns professores e mestres que eu conhecia na época, mas nenhuma da forma que eu curtia, resolvi voltar pro Kilombolas e encontrei meu atual mestre, João do Morro, ele tem um forma de treino que é bem parecida com o meu estilo, o que eu gosto, apesar das diferenças que são comuns. Continuei treinando com ele por alguns anos até vir o bendito batizado.
Como bom Vai e Vem, eu estava sem treinar, pois estava dando aula de informática a noite, e quando voltei já estava perto do batizado, poxa, como eu queria enfim receber minha primeira graduação, mas desta vez eu não me sentia preparado, nem fisicamente, nem bem treinado, nem nada, senti que não era o momento, apesar do meu mestre falar que se eu quisesse estava apto. Resolvi não me graduar, e desta vez, acho que eu senti mais, pois aquilo já não dependia de outra pessoa, a culpa foi minha. Participei do batizado, fui cantar, bater palmas e prestigiar meus colegas, e mais uma vez a sensação de que eu não saía do mesmo lugar. Depois do batizado eu tive remorso, eu me arrependi de não ter feito o batizado, afinal, eu não estava me sentindo bem no momento, mas com treino acredito que a confiança viria novamente.
Este ano de 2024 foi diferente, eu estava melhor fisicamente, tinha perdido bastante peso após a cirurgia, estava treinando melhor, estava treinando karatê também que estava me ajudando com fôlego e com os golpes, enfim me sentia mais preparado. Desta vez eu participei da confecção das cordas dos mais novos, treinos, arrumação do espaço, tudo!
Na hora do evento eu pensei que estaria eufórico, nervoso sei lá, eu não senti muita coisa, não sei, talvez até apático, na minha hora, fui fiz um jogo rápido, quando iria fazer o outro o mestre chamou o Iê e acabou a roda, recebi minha primeira graduação, e pra minha surpresa, não foi o primeiro cordão e sim o segundo. Isso mesmo, pulei o cordão verde e recebi o verde e amarelo. Não me sentia preparado para ele, mas nasceu o sentimento de correr atrás e fazer valer meu cordão.
No fim das contas, agora posso dizer que sou um capoeira, passei pelos batizados, tenho nome e corão e vamos seguindo, gingando e jogando.



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