Batizado do kilombolas

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Batizado do kilombolas

Minha história com a capoeira vem de pequeno, eu era super fã de Karate Kid (e na minha época quem não era) e era doido para fazer aulas, um dia meu pai chegou em casa a noite e me chamou para sair, não lembro ao certo como foi, mas quando cheguei ao lugar a decepção, aula de capoeira, aceitei (melhor que nada) e comecei a treinar, em pouco tempo tinha me apaixonado pelo mundo riquíssimo da capoeira, seus toques, cantigas e o jogo.

Mudei totalmente a minha visão, com o prof. Xaréu no grupo Arte e mandinga, treinei duro durante mais de um ano, quando chegou no período do batizado e troca de cordéis meu pai não tinha grana/não queria pagar (lembro que o custo era muito baixo, mas mesmo assim ele não pagou), ele falava muito que ele treinou muito tempo sem mudar de faixa (ele fez Karatê), e no dia do evento fui assistir, mas não recebi a minha primeira corda, isso foi muito triste, ainda era uma criança entrando na adolescência e isso me deixou muito chateado, a ponto de sair da capoeira.

Anos depois havia me mudado, morava em outro bairro popular de Salvador e lá encontrei outro grupo de capoeira o Kilombolas com o prof. Robocop, lá eu treinei durante bastante tempo, agora já com mais discernimento, eu me dedicava mais, visitava mais outras academias e rodas, aprendendo mais sobre a vida e a capoeira através dos treinos e da vida do meus prof. e camaradas de grupo, fiquei realmente apaixonado pela capoeira e pelo grupo. Neste período passei pelo ritual de batizado (que é quando o capoeira recebe seu nome de capoeira, o meu é Vai e vem).

Depois de um tempo, aconteceu o período de troca de cordéis, e com ele o mesmo problema de falta de dinheiro/vontade de pagar do meu pai, igualmente a primeira vez, lembro que fui no evento com a vazia esperança de mesmo sem ter pago eu receber o cordel, mas não foi o que aconteceu, meus amigos, parceiros de treino e etc haviam dado um passo e eu estava estagnado. Depois disso passei a faltar nos treinos, ia pouco e fiquei desmotivado e acabei largando a capoeira novamente.

Acabei largando os treinos, na verdade, mas a capoeira nunca me deixou, sempre que ouvia uma música, via uma roda etc, ficava extasiado, acompanhava e perdia o tempo, mas não tinha mais tempo para treinar, estudava a noite, então fiquei muito tempo sem contato com a capoeira. Quando formei, tratei logo de procurar um lugar para treinar, tentei na academia, mas não foi tão legal, eles tinham outros fundamentos, foi então que resolvi voltar para o grupo que tinha passado mais tempo e o que mais gostava, o Kilombolas, como o meu prof. Robocop não morava mais em Salvador, fui procurar outro um mestre também do grupo, foi aí que encontrei o Mestre João do Morro, relutei muito em treinar com ele pela distância, mas no fim acabei cedendo, e foi maravilhoso, ele mantém um trabalho social de capoeira para os meninos do Garcia, os treinos, a parceria, Mestre João é um cara abençoado.

Agora em Abril terá uma nova troca de cordéis, desta vez não será diferente, também não pegarei o meu primeiro cordel, estou muito faltante aos treinos devido a problemas do dia a dia e saúde da minha mãe, mas desta vez, agora com idade adulta, e diferente do quando era mais jovem, tenho consciência que não tenho condições físicas e capoeirísticas de representar alguém da corda verde, mas isso não me deixou chateado, isso hoje me motiva a no próximo estar melhor e realmente merecer a corda, de toda forma estarei lá fazendo o que sei fazer bem, ajudar o mestre, dar apoio no evento, cantar, tocar e bater palmas. Hoje vejo que o foco do evento são os meninos do projeto social, se esmerando para virar bons capoeiras e ganhar uma chance na vida tão difícil que levamos.

Meu mestre, é provável que não leia este texto, mas saiba que se eu jogo capoeira hoje com você é pela pessoa maravilhosa que você é, que se abstém de muitas coisas em prol do seu projeto, em que não recebe nada, e mesmo trabalhando com emprego fixo, deixa a sua casa de segunda a sexta para dar aula tentando melhorar a sociedade que estamos inseridos, fora os eventos que você faz. Se eu amo a capoeira, seu entusiasmo e companheirismo tem muita influência nisso. Posso estar passando por problemas agora e tendo dificuldades em treinar, mas Kilombolas é minha família e você é o elo que me liga a nossa ancestralidade quando jogamos capoeira. Muito axé mestre e que Olorum lhe abençoe para que continue sendo este modelo vivo para mim e para todos os capoeiras que te conhecem e que você inspira. Estamos juntos! Neste batizado, na capoeira e na vida.

 

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